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A hipnose pode ajudar no controle da dor?

“No clássico episodio de Erickson sobre o controle da dor, trouxeram-lhe uma mulher que estava morrendo de câncer. Trouxeram-na até Erickson numa ambulância, puseram-na em cima de uma cadeira de rodas e a empurraram até o consultório dele. A mulher olhou para Erickson e lhe disse “Essa é a coisa mais boba que já fiz em minha vida. Meu médico me mandou aqui de modo que você pudesse fazer alguma coisa com a dor. As drogas não aliviam minha dor. A cirurgia não aliviou a minha dor. Como é que você vai conseguir alivia-la apenas com palavras? Erickson, sentado na cadeira de rodas, rodou para frente e para trás e olhou para ela, tendo espelhado todas as suas crenças ao dizer “Você veio aqui porque seu medico mandou e você não entende como apenas palavras poderiam controlar sua dor. A cirurgia, tampouco, controlou sua dor. E você acha que essa é a maior besteira que já fez na vida. Bom, deixe-me fazer uma pergunta. Se aquela porta se abrisse toda… de repente… agora mesmo… e você olhasse por ela e visse um tigre enorme… lambendo faminto suas mandíbulas… olhando fixamente apenas para você… quanta dor você acha que sentiria?

Ele apresentou um contexto onde ninguém irá ter consciência da dor. A dor simplesmente não existe quando se está a ponto de ser comido por um tigre. Uma experiência na qual não existe dor pode ser algo a ser ancorado e mantido como estado alterado de caráter especial. Disse Erickson: “Mais tarde os médicos não entenderam quando ela disse que tinha um tigre debaixo da cama e que ela ficava assim escutando o “Purrr” que ele fazia. ” O texto citado acima é um trecho do livro Atravessando Passagens em Psicoterapia, e como você pôde ler, aborda um método usado pelo renomado hipnoterapeuta Milton Erickson para remover a dor de uma paciente. O que Erickson fez foi basicamente hipnotizar conversacionalmente a mulher através de uma metáfora em que a dor seria irrelevante diante de um perigo maior

No Grupo de Dor do Hospital das Clínicas da USP, Fabio Puentes, que trabalha a mais de 20 anos com a questão da dor, ensina pacientes a praticar a auto-hipnose, já que pouco adiantaria alguém eliminar uma dor enquanto está com ele em sua consulta. Por isso, alguns pacientes são orientados a usar processo de ancoragem, criando uma espécie de gatilho que dispara uma emoção ou um pensamento positivo quando não estiverem ao lado do terapeuta. “Um sujeito que decide parar de fumar pode usar uma ‘âncora’ instalada previamente em sua mente para diminuir a ansiedade e evitar o uso do cigarro”, explica o psicólogo e hipnoterapeuta Alberto Dell’Isola. Pode ser um gesto, como colocar as mãos sobre as pernas, ou mesmo uma simples palavra. Em uma sala de aula, por exemplo, ao estudar um idioma, você pode utilizar o verbo “reter” como âncora para fixar o aprendizado – basta acionar o gatilho quando precisar usar esse conhecimento.

Analgesia e Anestesia

Sabe quando você está com uma terrível dor de dente e decide ir ao dentista? Quando chega lá, enquanto aguarda sua vez, ouve o barulho da furadeira no consultório e isso dispara um medo, seguido daquele frio na barriga e sua dor de dente simplesmente desaparece, por algum tempo você “esquece” a dor, pois seu cérebro está focado em preservar sua vida, preparando você para lutar, fugir ou paralisar diante da ameaçadora furadeira do dentista. A carie continua lá e você ainda precisa submeter-se ao dentista, mas seu cérebro está “distraído” pelo medo e por isso dissociado da dor física. 

Sabe quando você esta andando encosta em algum lugar e continua a caminhar e depois de algum tempo quando para e olha para seu braço que constou naquele lugar e visualiza um machucado e simplesmente começa a ter dor. 
Durante a caminhada você estava dissociado, distraído e focado em outras tarefas. 

Através da hipnose sim é possível atingir estados de analgesia e anestesia

dores crônicas da fibromialgia

quando Suzana, de 46 anos, aceitou ser voluntária de uma pesquisa sobre dor e hipnose, estava sofrendo muito com sintomas da fibromialgia. as dores pelo corpo eram fortíssimas. mãe de três filhos, havia dois anos que ela tinha largado o emprego de costureira por conta da síndrome, que tratava com acupuntura, exercícios na água e quiropraxia. além disso, sofria de depressão e não usava medicamentos para conter o problema. de acordo com o artigo hipnose e dor: proposta de metodologia clínica e qualitativa de estudo, do psicólogo Maurício da silva Neubern, da UNB, a paciente foi induzida ao estado hipnótico em cinco oportunidades. o terapeuta apostou em sugestões de anestesia e analgesia para reduzir a dor de Suzana. falou da “sensação dos músculos relaxando” e afirmou que o “corpo sabe o que fazer”. para combater o sentimento de que a vida da paciente estava paralisada por conta da doença, o pesquisador sugeriu a ela que “nosso consciente capta apenas uma pequena parcela de nossa experiência” e que o inconsciente de Suzana “pode rever a história inteira em poucos segundos, como se fosse um filme”. os resultados foram significativos: Suzana relatou que a dor tinha sido reduzida em 90% e que ela tinha ficado até cinco dias livre do desconforto. além disso, depois das sessões, Suzana dizia que pensava em retomar a profissão e tinha aprendido a usar por conta própria algumas técnicas hipnóticas para conter crises.

iezo.nakano

iezo.nakano

Terapeuta, hipnólogo, hipnoterapeuta atuando a mais de uma década com foco principalmente nos transtornos de ansiedade. Formação pelas melhores escolas de hipnose mundiais

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